IPT inaugura núcleo para impulsionar inovação em saúde humana, animal e ambiental em São Paulo

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Núcleo de Tecnologias Avançadas, que vai atuar inclusive com pesquisas em xenotransplante (tecidos ou órgãos de animais para humanos), recebeu investimento de R$ 16 milhões do Governo do Estado

O Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) promove avanço científico na capital paulista ao inaugurar hoje, 13 de outubro, no campus do instituto, as instalações do Núcleo de Tecnologias Avançadas para Bem-Estar e Saúde Aplicados às Ciências da Vida (Nutabes), com diversos trabalhos, inclusive xenotransplantes (transplante de tecidos ou órgãos de animais para humanos), em seu campus localizado na Cidade Universitária. Um dos mais tradicionais centros do Brasil e do mundo, o instituto, com 116 anos de atividades, é vinculado à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado de São Paulo.

Com uma estrutura moderna, o Nutabes tem foco em tecnologias emergentes. Além de xenotransplantes, entram nesse rol dispositivos médicos inovadores e soluções para saúde e bem-estar, consolidando-se como um espaço estratégico para impulsionar pesquisas de alto impacto, formar especialistas e ampliar o acesso a tecnologias capazes de transformar vidas.

“Não canso de elogiar o IPT, instituição centenária que sempre está em destaque porque sabe se renovar continuamente e se antecipar às necessidades e demandas da sociedade. A inauguração do Nutabes confirma isso, pois disponibiliza uma nova infraestrutura na área da Saúde que permite realizar pesquisas em novos campos”, destaca o secretário da SCTI e professor emérito da USP, Vahan Agopyan.

O núcleo recebeu um investimento de R$ 16 milhões do Governo do Estado de São Paulo para a construção de um moderno complexo de 1.650m², que abriga um laboratório multipropósito, voltado ao desenvolvimento de projetos de PD&I em saúde e bem-estar para atender demandas da indústria, do governo e de iniciativas públicas e privadas. Inclui biotério de suínos ( pig facility ) de alta tecnologia, com nível de biossegurança 2 (NB2), destinado à criação e manejo de animais geneticamente modificados para fins de xenotransplante, e uma sala de realidade estendida para ser usado como ambiente de pesquisa aplicada e inovação tecnológica.

O Nutabes nasce com a missão de revolucionar a saúde ao incorporar o conceito One Health (Uma Só Saúde), por meio de abordagem integrativa que reconhece a interconexão entre saúde humana, animal e ambiental. A estruturação, iniciada em 2021, tem como propósito acompanhar tendências globais e contribuir para a elevação da qualidade de vida da população por meio da pesquisa aplicada, da inovação tecnológica e da articulação entre múltiplas disciplinas científicas e setores produtivos.

Reconhecido por instituições como a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) e a Food and Drug Administration (FDA), o enfoque One Health é considerado essencial para prevenir surtos de doenças, promover o uso responsável de recursos naturais e antecipar crises sanitárias globais. Guiado por essa abordagem sistêmica, o Nutabes busca responder a alguns dos desafios mais urgentes da saúde global, com propostas inovadoras e de alta complexidade.

“Imagine um futuro no qual órgãos para transplante não sejam mais um recurso escasso, e dispositivos médicos inteligentes monitorem nossa saúde em tempo real, identificando riscos, personalizando tratamentos e auxiliando diagnósticos. Um futuro em que a saúde possa ser estudada de modo unificado”, afirma a pesquisadora Helena Corrêa de Araújo Gomes, gerente técnica do Nutabes, que tem graduação em Biologia, mestrado em Saúde Pública e doutorado em Biologia Celular e Molecular, além de pós-doutorado na área. “Com o núcleo, o IPT amplia a atuação em áreas de impacto direto na vida da população, como diagnóstico e prevenção de doenças, inovação terapêutica e saúde mental”, afirma.

Linhas de pesquisa

As principais linhas de pesquisas a serem desenvolvidas pelo Nutabes serão:

* Saúde digital: desenvolvimento e aplicação de tecnologias digitais voltadas a dispositivos médicos para uso em ambiente hospitalar ou domiciliar, com foco em monitoramento, diagnóstico, tratamento e apoio à tomada de decisão clínica.

* Saúde ambiental: investigação das relações entre florestas urbanas e saúde mental, com ênfase em estratégias de promoção do bem-estar em ambientes naturais, além de entomologia (estudo dos insetos) médica e controle de zoonoses para a prevenção de transmissão de doenças.

* Bioengenharia: desenvolvimento de produtos e tecnologias para a saúde humana e animal, incluindo dispositivos médicos inovadores e soluções de diagnóstico point-of-care (teste no ponto de atendimento, ou seja, no local de cuidado do paciente, seja em clínicas e hospitais ou em casa, para garantir resultados rápidos e, assim, agilizar diagnósticos).

* Xenotransplantes: utilização da engenharia genética para viabilizar transplantes de órgãos e tecidos entre diferentes espécies.

* Cannabis medicinal: desenvolvimento analítico e controle de qualidade de Cannabis para aplicação medicinal, com foco na validação de métodos para quantificação de canabinoides, análise de contaminantes e estabilidade de formulações.

Estrutura

Em relação à infraestrutura física do Nutabes, o laboratório multipropósito será destinado ao desenvolvimento dos projetos de pesquisa e desenvolvimento em sinergia com todas as unidades do IPT. Para isso, o espaço foi projetado e concebido com a capacidade de ser flexível e adaptável, podendo ser customizado de acordo com a linha de pesquisa a que se destina no momento da operação.

O laboratório possui estrutura que possibilita a instalação de equipamentos por meio de ajustes rápidos, sem a necessidade da realização de obras. O espaço é formado por uma sala de lavagem, uma área destinada a projetos que envolvam biologia molecular e um setor destinado à futura instalação de um insetário, para criação de espécies de importância médica e veterinária. Destaque também para a área de expansão de 117m², destinada à instalação de novos ambientes, desenvolvimento de projetos estratégicos ou adaptação, conforme demandas futuras.

O núcleo também contará com uma sala de realidade estendida, que é um ambiente dedicado ao desenvolvimento de projetos com realidade virtual, com foco em aplicações inovadoras para as ciências da vida. A infraestrutura física do espaço foi projetada para atender tanto a projetos de P&D quanto à demonstração de tecnologias aplicadas, incluindo uma sala de imersão que poderá ser equipada com recursos sensoriais avançados, como controle de temperatura, difusão de aromas e ambientação sonora, possibilitando a criação de experiências multissensoriais imersivas e realistas.

“Esse ambiente reforça o papel estratégico do Nutabes no avanço de tecnologias emergentes, contribuindo para o desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas, educacionais e de simulação clínica”, explica a pesquisadora Helena Gomes, lembrando que o espaço oferecerá serviços personalizados, incluindo modelagem molecular, simulações de ambientes naturais, treinamentos médicos e experiências interativas aplicadas à saúde.

Xenotransplantes

A demanda pelo transplante de órgãos como rins e córneas, por exemplo, cresce a cada ano. Para fornecer uma alternativa aos pacientes e diminuir a carência de órgãos, o novo núcleo do IPT vai colaborar para a realização de xenotransplantes no Brasil, uma técnica inovadora de transferência de células, tecidos ou órgãos entre espécies diferentes. Nesse projeto, suínos geneticamente modificados serão doadores de órgãos e tecidos para humanos no futuro.

O Nutabes será responsável pela criação de suínos destinados aos ensaios pré-clínicos de xenotranplante, operando a infraestrutura das cirurgias de extração dos órgãos destinados aos ensaios clínicos e, no futuro, ao transplante em humanos. Também garantirá padrões rigorosos de biossegurança, rastreabilidade e bem-estar animal em um ambiente de pesquisa e desenvolvimento voltado à inovação em biotecnologia, apoio à validação pré-clínica e, finalmente, a futura viabilização clínica dos xenotransplantes no Brasil.

Dentro do projeto de xenotransplantes, o IPT conta com a parceria do Instituto do Coração (InCor, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – USP), do Instituto de Biociências (USP), da empresa farmacêutica EMS, da XenoBrasil e do Instituto de Zootecnia (Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado).

O professor Ernesto Goulart, do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva do IB/USP, afirma tratar-se de um projeto inovador e pioneiro na América Latina, propondo a sistematização do método de xenotransplante em uma infraestrutura nacional dedicada à produção de suínos geneticamente modificados e livres de patógenos. “Utilizaremos tecnologias avançadas de edição genética e padrões internacionais de biossegurança para a criação dos animais, estabelecendo as bases para a geração controlada de órgãos compatíveis com humanos, superando barreiras imunológicas e sanitárias dando destaque ao Brasil na área de biotecnologia aplicada à saúde em termos globais”, ressalta.

Segundo Helena Gomes, havia, no final do último mês de setembro, 47.328 pacientes que aguardavam por um transplante de órgão no Sistema Único de Saúde (SUS): “A fila para transplante renal hoje representa a maior demanda, chegando a mais de 90% do total dos pacientes. Esta é uma resposta promissora à grave escassez de órgãos para transplantes no país, e oferece uma alternativa real e segura para pessoas com insuficiência renal que fazem hemodiálise”.

Além dos transplantes de órgãos, o xenotransplante também poderá oferecer alternativas como o uso de pele de origem animal em casos de queimaduras extensas. “Com o Nutabes, o IPT consolida sua atuação como centro de excelência em pesquisa aplicada, capaz de conectar ciência, tecnologia e sociedade para criar soluções que antecipam o futuro da saúde”, finaliza a gerente técnica do Nutabes, que possui ampla experiência em biotecnologia, biologia molecular, virologia, entomologia médica, resposta imune e desenvolvimento de tecnologias aplicadas à saúde humana e animal. Ela lidera a frente técnica do IPT no projeto nacional de sistematização do método de xenotransplantes, coordenando a implantação da primeira pig facility com biossegurança nível 2 do país.

Fonte: https://www.inovacao.sp.gov.br/sec_tecnologia_inovacao/noticias/ipt+nutabes

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